Hoje
vestirei a mulher.
Deixarei
guardados todos os trajes,
deste meu
teatro, onde enceno, todos os dias, a vida real.
Deixarei
nos cabides de minha vida, as várias personagens,
que eu
tomo, e que me tomam.
A
psicóloga, que muito ouve, mas não encontra tempo para
ser ouvida;
A médica
que conhece os sintomas, os males, que afetam
os seus,
mas não pode exteriorizar o que lhe adoece a alma;
A
Enfermeira sem horário, que acompanha, paciente, com doses
Homeopáticas
de amor.
A
professora sem lousa, que ousa responder todas as questões,
mas não
consegue resolver seus próprios problemas.
A
lavadeira, passadeira, cozinheira,arrumadeira, mudando
o
vestuário, no mesmo ato, sem sair do palco.
A mãe de
dores e amores, imagem sagrada dos filhos;
A esposa
composta, indisposta, cheia de pudores.
Hoje, sem
texto, sem pretexto, vestirei a mulher,
num
espetáculo a parte.
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