BEIJA-ME

¹¹¹

BEIJA-FLOR

Vem, dá-me prazer!

Vem usar teus sentidos;

Dizer baixinho em meus ouvidos,

Coisas que tanto anseio ouvir.

Tuas mãos, assanhadas, sem freios;

Tua boca quente, em meus seios, quase a me deglutir.

Minha flor desabrochada: Pétalas vermelhas exalam,

cheiro de amor e desejo; quando tua língua resvala, sugando-me o pólem, num beijo.

Ali, meu beija-flor permanece, nem de mim, se compadece, nessa tortura: Meu céu!

Olha minha flor entreaberta, e entra em hora certa,

para arrancar de mim todo o mel.

REGRAS:SER MÃE.

MULHER É UM BICHO TÃO MATERNAL,
QUE QUANDO O VENTRE ESTÁ VAZIO,
O CORPO CHORA SANGUE.

BEM-TE-VI

BEM MEU VIU?
NEM TE VÍ.
SÓ TE OUVI ME AMANHECER:
BEM-TE-VI

CONTRADIÇÃO, SEU NOME É MULHER.

SER MULHER É NASCER ARMADA DE LUTA,

É SER SANTA E SER PUTA, NA MEDIDA EXATA

DA PAIXÃO.

É NASCER PREDESTINADA

À AMAR INCONDICIONALMENTE,

AOS FILHOS DE SEU VENTRE,

E AQUELES DO CORAÇÃO.

É SER MUITAS, NA MESMA PESSOA;

É CHORAR E RIR Á TOA,

SEM SABER QUAL A RAZÃO.

SER MULHER É CHORAR SANGUE,

QUANDO O VENTRE ESTÁ VAZIO;

É VIVER A VIDA NUM FIO,

NUMA ETERNA DOAÇÃO.

SER MULHER É TER A FRAGILIDADE

DE UM PASSARINHO, GUARDANDO

O AMOR DE SEU NINHO, COM A FORÇA

 DE UM LEÃO.

SER MULHER É CONTRADIÇÃO;

NA PROPRIA PALAVRA ESCRITA.

É ESSA SANHA BENDITA,

AGRIDOCE CORAÇÃO.

PRETÉRITO

QUANDO O TEMPO ME PERGUNTOU, PARA ONDE IA,
NÃO PAREI PARA RESPONDER.
SE PARAR, PERCO TEMPO E, MEU HOJE, VIRÁ ONTEM.
SÓ O ESPELHO, NOS OLHOS DO OUTRO, REFLETE O TEMPO QUA PASSA EM NÓS.
QUANDO O CAMINHO COMEÇA, NÃO SABEMOS ONDE TERMINA.
E, SE, TERMINA.
DEPOIS DA CURVA DO TEMPO SEMPRE HAVERÁ UM HORIZONTE:
NÃO CONHECEMOS O TAMANHO DA ESTRADA.
SE NÃO CAMINHAMOS, ELE CAMINHA: O TEMPO NÃO DORME.
O TEMPO ENVELHECE, TRAZENDO O NOVO; NOVAS LEMBRANÇAS.
É UMA HERANÇA QUE SE ESVAI ENTRE OS DEDOS;
UMA CRIANÇA GRANDE COM MEDO DE ENVELHECER.
SÓ ME RESTA GUARDAR AS DOBRAS DO TEMPO:
ELE PASSOU BEM PASSADO.

TESTAMENTO

Deixo os beijos que não foram dados,
Para as bocas que me quiseram beijar.
Deixo longos abraços apertados,
Para os que não pude abraçar.

Deixo um olhar de ternura,
que alcance fundo n’alma,
Com toda possível doçura,
Sem pressa, com toda a calma!

Deixo as palavras que não proferi:
As malditas enterrem comigo.
Os doces sonhos que não vivi,
Distribuo entre os amigos.

Deixo os passos que não dei,
Por simples medo do caminhar.
Todas as portas que não ousei,
Deixo-as a quem quiser tentar

Deixo os carinhos pedidos,
E,os que tanto quis pedir,
Para todos os desvalidos,
Do falar, e do ouvir.

Levo um coração de poeta,
Meio machucado, é verdade.
Levo na alma, a cota certa,
do que amealhei de saudade!